Momento Entrevista:
A mente brilhante do criador e suas histórias
Todo mundo já pensou um dia em ter um filho, plantar uma árvore e, quem sabe, até escrever um livro com suas memórias ou tema de preferência. Os dois primeiros itens a grande maioria das pessoas, que conhecemos, já realizou, faltou mesmo só publicar uma obra. Mas será que é simples assim escrever um texto bacana para que outras pessoas possam ler? Será que é preciso ter coragem para isso?
Para o menino Eraldo Miranda, um sonhador de Alumínio, interior de São Paulo, isso nunca foi um problema ou pesadelo. Acostumado a lidar com textos e histórias em seu dia a dia, pois adorava ler e criar personagens em sua mente, decidiu unir o útil ao agradável. Tornou-se escritor e hoje é referência na literatura infanto-juvenil. Conheça um pouco mais sobre ele no bate-papo prazeroso que tivemos sobre sua vida, projetos e sonhos.
JCG Comunicação - Quando começou a escrever de fato (como escritor anônimo e ou profissional)?
Eraldo Miranda: Antes de escrever, vivia a narrar histórias para crianças da educação infantil, o que me auxiliou muito para escrever, primeiros anônimos, textos meus de gaveta. Contudo profissionalmente escrevi o primeiro livro a partir de pesquisas da tradição oral em 2002. Neste mesmo período, comecei a escrever meu primeiro original que viria ser publicado em 2003.
JCG Comunicação - Qual foi o primeiro livro escrito (publicado ou não)?
Eraldo Miranda: O primeiro livro foi “As Aventuras de Pedro Malasartes”, mas no mesmo ano também nasceu o “Dia do Rio”, curiosamente eles foram lançados praticamente juntos em 2003.
JCG Comunicação - Qual foi a primeira Editora que publicou sua obra?
Eraldo Miranda: Foi a Editora Elementar de São Paulo, mas também no mesmo ano, meses depois, a Franco Editora também publicou outra obra.
JCG Comunicação - Qual foi a sensação de ver um filho (livro) seu impresso e a venda?
Eraldo Miranda: Encurtando a história, quando a Editora Elementar me ligou para dizer que o livro Malasartes, ainda em boneco sem entrar na gráfica, havia sido no vendido para a Prefeitura de São Paulo, com cinco mil exemplares, fiquei atônito. Eu, que já morava numa pensão em Guarulhos, que tinha mais baratas e ratos do que gente, me sentei na escada e chorei como criança, de soluçar e tudo. Era meu primeiro livro, um filho nascendo, e seria publicado com uma tiragem alta! Imagina a minha alegria... sem palavras mesmo.
JCG Comunicação – Quantos livros você já tem publicado e quais são as editoras que são suas parceiras?
Eraldo Miranda: Tenho mais de 15 livros já publicados e previsão para o dobro deste número que vão chegar entre 2015 e 2016. Em breve apresentarei muitas novidades para os meus leitores. Entre os livros e as editoras estão:
· As aventuras de Pedro Malasartes
· O dia em que Ananse espalhou sabedoria pelo mundo
· Ludens, a cidade dos bonecos
· Histórias boas de contar dos Irmãos Grimm
Mundo Mirim
· O nascimento dos Andes e outras lendas pré-colombianas
Cortez Editora
· O menino que levou o mar para o avô
Franco Editora
· O dia do rio
· Os três porquinhos
· Um ovo para a paz
Trilha das Letras
· Caiu no chão, virou bichão
· A centopéia sem pés
· Mitos do fogo
Editora Napoleão
· O reino da Caixa tonta
CRIA Editora
· Guerra e Paz
JCG Comunicação – Quais são os livros de destaque em sua carreira?
Eraldo Miranda: Considero todos os livros, mas três deles, hoje, tem maior destaque, que são: “Guerra e Paz”, ilustrado com as imagens dos Painéis Guerra e Paz de Candido Portinari e prefácio de Milton Nascimento, pela Cria Editora; “O Menino que levou o mar para o avô, pela Cortez Editora; e “As aventuras de Pedro Malasartes”, pela Editora Elementar.
JCG Comunicação – O que você espera para a literatura nacional?
Eraldo Miranda: Sempre espero (pelo que necessitamos crescer) muito trabalho, muitas ações efetivas acerca do livro literário. Este é um universo aberto e ainda pouco explorado. Apesar das compras governamentais alimentarem uma grande parte das publicações nacionais, precisamos de muito mais. Carecemos de mais bibliotecas, mas não somente do prédio, mas lá no espaço físico de muitos livros e, acima de tudo, bibliotecários reais, não de faz de conta como acontece em muitos estabelecimentos. É preciso valorizar está classe tão necessária para a coisa funcionar e bem. Precisamos de mais livrarias descentralizadas, uma vez que os números são ínfimos diante do tamanho do país. Os dados apresentam que as livrarias estão alocadas nos grandes centros. Precisamos, também, de mais feiras e salões literários, não somente bienais. É importante desenvolver políticas públicas mais rígidas para aquisição municipal de livros, uma vez que na maioria esmagadora dos municípios brasileiros, talvez haja bibliotecas e salas de leitura nas escolas, mas não há livros e, quando se compram algo, são obras muitas vezes com qualidade literária questionáveis, já que os critérios de avaliação são falhos e vemos que compram qualquer livro para fazerem números nas prateleiras. Há muita coisa boa acontecendo, muita mesmo, tenho presenciado ações de estimulo a leitura que nem sonhava na minha infância. Mas o Brasil precisa, ainda, fazer muito, mas muito mesmo para ficar mais ou menos dentro deste cenário. Agora para ficar bom e ótimo, as gerações lá na frente terão que ter a competência e habilidade para continuar aquele sonho de Lobato, “um país de homens e livros”.
JCG Comunicação – Como você enxerga o universo literário no Brasil hoje?
Eraldo Miranda: Podemos afirmar e confirmar que somos um país que possui escritores de renome atemporais como, por exemplo, Lobato, Machado, Amado, Vinícius, Ana Maria Machado e tantos e tantos outros que foram surgindo numa literatura que não perde para nenhuma no mundo. E, hoje, em específico a literatura infantojuvenil nacional é riquíssima, sempre surgem novos autores e ilustradores. Tudo isto me deixa, verdadeiramente, esperançoso para o futuro próximo.
JCG Comunicação – Qual mensagem você deixa para o público infanto-juvenil?
Eraldo Miranda: Eu diria assim:
Sonhem... Construam e Reconstruam, a partir de suas leituras, coisas boas para suas famílias, cidades, país e mundo. Todos sabem da importância da leitura, então leiam. A leitura tem que ser como chocolate e seus diversos paladares. Tem que ser prazerosa, livre, espontânea, construtiva. Temos que esquecer a palavra obrigação para a leitura, o ato de obrigação na leitura está na importância e validade que cada indivíduo delega ao livro. Leitura é extensão, é ação e experimentação do universo que nos cerca, seja qual for seu campo de visão. É pão e café com leite pela manhã, é no almoço arroz, feijão, bife e salada. É a noite um suculento prato de sopa. Ao se alimentar assim, você vai constituir um individuo pleno e sabedor de seus direitos e deveres e os reflexos de suas ações sobre a sociedade. A poética está aí, aqui, ali e todos os dias ela é experimentada, mesmo que não você não a perceba. A consciência sobre isso só será concreta por meio do exercício de leitura não só de livros, mas do eu, do outro e do mundo. Crianças leiam para contar suas histórias, pois elas são importantes para todos. Vão em frente e leve suas palavras, revoadas de pássaros aos sedentos por saber e aprender. Porque contar histórias é uma maneira de se ser percebido e perceber o outro. Eu só existo se eu sou percebido e narrar uma história é uma das mais belas maneiras de se deixar ser percebido. É um jeito de você marcar a sua passagem aqui com palavras, pontos e vírgulas. Desse modo você marca a sua passagem, sagrada passagem. Leiam para rir e chorar. Leiam para sonhar, para acordar Leiam para construir e para desconstruir. Leiam em nome da liberdade, em nome de um mundo melhor e justo. E só podemos cobrar melhorias para nossas vidas se somos sábios e sensíveis para cobrar isto. O ato de ler nos torna poderosos como voz que é ouvida e respeitada.
JCG Comunicação – Qual mensagem você deixa para os empresários e afins que podem contribuir para mudar o cenário da pouca leitura no Brasil?
Eraldo Miranda: Em um país ao qual temos pessoas conscientes e críticas de suas funções sociais, seguramente, na hora de escolher um produto ou marca, elas irão buscar aquela que lhes tragam benefícios positivos. O mesmo se aplica aos livros. A leitura deve começar a ser uma prática nos meios familiares, em escolas e centros sociais, pois contribui para perspectivas de formação de cidadãos atuantes e conscientes. E são estes sujeitos que contribuem para o crescimento, social, cultural e econômico do país. Quando as empresas criam iniciativas em projetos que estimulam a leitura, ganham com isso, pois o resultado é a divulgação de sua marca e sua ação em prol de melhorias para o coletivo. Contribui para o Brasil tornar-se um país não somente de livros, mas acima de tudo de leitores. É contribuir para uma nação fortalecida, onde empresas e sociedade se beneficiem mutuamente.
Carina Gonçalves
Jornalista responsável
JCG Comunicação – Excelência na Arte de Comunicar
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